Minha posição contra redes de esgotos é antiga. Desde a infância observava com nojo aqueles tubos despejando imundície nas praias e os rios fedorentos que mais eram canais de esgotos. Aquilo certamente me marcou.
Durante anos, em toda e qualquer ocasião oportuna, eu expunha verbalmente meus motivos para ser avesso à construção de redes de esgoto.
Até hoje, pelo espanto dos ouvintes, percebo que as pessoas em geral ainda não pararam para pesar os prós e contras disso.
Para a maioria, rede de esgotos é sinal de progresso e pronto! Alguns até acreditam que, havendo tratamento do esgoto, os problemas desaparecem. Outros apenas consideram ser um mal inevitável.
Um dia resolvi juntar tudo num documento e aqui está. Se o amigo leitor se enquadra em qualquer dos casos acima, ele foi escrito diretamente para você.
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A cada dia tornam-se mais e mais discutíveis as questões e soluções relativas a água e esgoto. A cada dia, mais responsabilidade é exigida do cidadão e do Estado em assuntos de meio-ambiente.
Este documento foi escrito para a cidade de Alto Paraíso de Goiás, que não tem rede de esgotos, mas é válido para qualquer outra cidade ou situação. Ele é apartidário, sem interesses pessoais, pretende ser politicamente correto e seu autor deseja apenas fomentar a discussão deste assunto polêmico.
Assim, no caso de você abraçar esta idéia, este documento poderá servir como auxílio para questionar aqueles que desejam uma rede de esgotos.
Por outro lado, se prefeitura e população decidirem pela construção de uma rede de esgotos, ficarão ao menos conscientes da aventura inglória e sem retorno em que estarão se metendo.
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Rede de esgotos é um conjunto de canalizações subterrâneas que atravessam a cidade, recolhendo as águas servidas de cada habitação. Por gravidade, essas águas são despejadas em rios, lagos ou no mar.
Nesse caminho deveria existir uma estação de tratamento, mas infelizmente, isso é o que menos acontece. O "normal", o mais comum, é o esgoto ser descartado “in natura”, despejado parcial ou integralmente onde for mais fácil.
O sistema envolve cinco componentes: os habitantes, rede de esgotos, estação de tratamento, os rios e a prefeitura, que coordena o conjunto.
Tratemos de cada um separadamente:
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Sob a ótica individual do cidadão, quando falta a visão do bem-maior, seja da cidade, do país, do planeta, do meio-ambiente, é compreensível a demanda por uma rede de esgotos. Afinal, quer diminuir seus custos de construção.
Cada pessoa deveria entender que seu próprio esgoto é um problema dela mas transferir essa responsabilidade para a outros (no caso a prefeitura) parece facilitar tudo.
Aparentemente, parte da população anseia mesmo por uma rede de esgotos porque prefere despejar seu esgoto na rua a consumi-lo em seu próprio terreno, seja por falta de consciência, de fiscalização ou por inexplicável que seja.
Como a lei da gravidade impera, esse esgoto jogado na rua passa de porta em porta (quando não entra) e cada vizinho vai também adicionando sua parcela.
Assim, uma espécie de rio é formado no qual as crianças chafurdam. As pessoas passam, se lambusam e vivem em meio a esse lodo -- uma rede de esgoto a céu aberto (valas negras).
Nos dias ensolarados, parte desse "rio" de lodo se transforma em pó que o vento se encarrega de espalhar, misturando-o ao ar que todos respiram.
Quando chove, esse esgoto é democraticamente distribuído pelas ruas de toda a cidade.
O povo passa a viver em meio à imundície e, ao invés de culpar a si mesmo, reclama da Prefeitura por isso.
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Sua construção é uma obra caríssima e demorada que transtorna a vida de todos. Não é boa para os políticos porque fica escondida depois de “pronta”, parecendo que nada foi feito.
Sendo um empreendimento de grande porte, é quase sempre realizado por grandes empresas de fora, drenando recursos da cidade.
No nível de projeto, existe um dilema sem solução: Por mais superdimensionadas que sejam as tubulações, após algum tempo a rede se torna insuficiente, demandando novos e maiores investimentos num emaranhado sem fim.
A cidade jamais pára de crescer! Além das novas casas, prédios e construções nas ruas já com rede de esgotos, sempre há áreas novas, que se tornam carentes de serem integradas á rede existente, causando em conseqüência, uma ampliação sem fim.
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Por exemplo, um passeio pela turística cidade do Rio de Janeiro mostrará incontáveis rios de esgotos aflorando nas casas e pelas ruas. Ao longo da cidade, carros passam e espirram dejetos nos passantes, até mesmo nas ruas mais importantes do Centro.
É comum as cidades que têm redes de esgotos viverem imersas em gigantescas e infindáveis obras de manutenção e ampliação desses serviços. Mas, apesar de todo esse empenho e pedidos de desculpas pelo transtorno, continuam a vomitar esgoto por todo lado.
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A rede de esgotos é o paraíso (com “p” minúsculo) para a proliferação de ratos, baratas, lacraias, escorpiões e toda espécie indesejável de transmissores de doenças.
À noite eles passeiam pelas nossas casas e, conforme vão se multiplicando, tornam-se problema de saúde pública e todos protestam: “A cidade tem milhões de ratos! Precisamos de um programa para erradicá-los”.
Porém, acabar com eles é impossível, porque ali se encontram devidamente abrigados, protegidos e a salvo de seus predadores naturais. Não há “programa” que dê jeito!
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A rede de esgotos, esta sim é sujeita ao ataque de “inimigos naturais”, entre eles:
Tudo isso acontece sorrateiramente, sem ser percebido, até que... o esgoto emerge pelas ruas e por dentro das casas.
Imaginar o resultado vale mais que mil palavras.
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Tudo isso sem omitir que esse esgoto, tanto o que é espalhado pelo caminho quanto o que consegue seguir pelas tubulações, contamina e mata rios, lagos, mares etc.
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Parece haver um certo consenso de que rede de esgotos é uma coisa boa, desde que haja uma estação de tratamento. Será mesmo? Vejamos:
Qualquer que seja o local a ser escolhido para a sua implantação, imediatamente desvaloriza toda a região próxima e sacrifica a vida dos moradores pelo fedor insuportável, causando um prejuízo irreparável.
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Por melhor e mais moderno que seja o processo de tratamento (entenda-se por mais dispendioso) não faz com que a água saia limpa.
Os "técnicos" afirmam que essa "água" sai 98% potável e que você poderia bebê-la. Mas não se deixe enganar! Trata-se de poluição química dita “aceitável”. Alás, se a água pós-tratada fosse mesmo “boa”, não seria jogada fora!
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Os problemas de projeto e dimensionamento já citados antes, aqui se repetem, porém com sério agravante: ao ocorrer insuficiência de capacidade, obsolescência tecnológica, paradas para manutenção ou ainda qualquer eventual overdose de afluentes, todo o esgoto (ou parte dele) é despejado nos rios sem tratamento, já que não dá para guardá-lo para ser tratado posteriormente. Algo pode ser feito para impedir isso?
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Nessa questão do tratamento há um detalhe extremamente importante a salientar. Atenção: somente uma pequenina parcela das águas servidas carece de ser tratada, aquela provinda de vasos sanitários. Contudo, a rede de esgotos conduz à estação de tratamento todas as águas servidas e por isso todo o sistema precisa ser imensamente maior do que seria adequado, contrariando o mais elementar bom senso.
Só esse argumento já bastaria para mostrar como é absurdo o gigantismo decorrente de recolher-se o esgoto para tratá-lo em outro local. E é por isso que, na prática, ele acaba mesmo sendo descartado sem nenhum tratamento.
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TURISMO “Chapada dos Veadeiros, o berço das águas do Brasil”, ou seria... o berço do esgoto do Brasil? Turismo? Quem iria querer imundície ou procurar por cachoeiras e locais poluídos pelo esgoto?
SAÚDE O primeiro “beneficiado” seria o Rio São Bartolomeu e os habitantes do Moinho e do Sertão beberiam lodo.
Que herança triste para os nossos filhos e que desgraça para o restante do País! Não parece mais sensato manter os rios livres de tal poluição?
LEMBRETES (coisas para nunca serem esquecidas):
Todos os custos inerentes à construção, manutenção e operação desse Inferno (antigo Paraíso), acrescidos dos custos burocráticos, são evidentemente repassados para a Prefeitura e para os cidadãos, que são presenteados com mais uma despesa mensal, obrigatória e irreversível.
É bem pouco provável que os que hoje anseiam por uma rede de esgotos imaginem que pagarão por ela pelo resto de suas vidas.
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Embora existam várias alternativas (até melhores) para tratamento caseiro do esgoto, a mais empregada ainda é o velho e conhecido conjunto: fossa séptica e sumidouro.
Não cabe aqui discorrer sobre esse assunto, por isso apenas alguns detalhes considerados mais relevantes serão expostos:
Um sistema bem projetado e construído pode ficar muitos anos sem precisar de qualquer manutenção.
A Prefeitura poderia manter um ou mais peritos para dar suporte técnico permanente à população e ainda fiscalizar irregularidades. Pode também ajudar financeiramente os de baixa renda para que todos tenham sua mini “rede de tratamento” caseira construída e funcionando. Tudo isso a um custo infinitamente inferior a qualquer obra de porte e fazendo a todos felizes, saudáveis e prósperos.
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Quando é que o binômio fossa-sumidouro não funciona?
Nesses casos, alguma outra tecnologia de tratamento local precisa ser utilizada. Por isso, o estudo do solo e do impacto gerado pelo esgoto deve fazer parte de qualquer projeto ou empreendimento, sendo dimensionado e detalhado o processo do tratamento a ser empregado.
A construção de fossa e sumidouro desfaz com o principal argumento dos que receiam a poluição do lençol freático, mas outras tecnologias podem ser ainda menos poluentes.
Estamos no século 21 e, quanto maior o empreendimento, mais necessário se torna o tratamento local das águas servidas e seu reaproveitamento. E essa responsabilidade não pode ser esquecida.
Hoje em dia, somente uma visão curta ou interesses econômicos inconfessáveis podem levar à construção de redes de esgoto. Tratar o esgoto no próprio local onde é gerado é menos poluente e mais econômico, qualquer que seja a alternativa escolhida.
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Quem usa a terra, nela mora, constrói ou mantém um negócio precisa ser levado a eliminar a poluição que causa.
Valas negras e também sumidouros sem tratamento precisam ser erradicados.
A decisão por não construir uma rede de esgotos tem que ser seguida de procedimentos para que o esgoto seja adequadamente tratado em sua própria origem, atingindo todos os geradores de esgotos, grandes ou pequenos, a cada um conforme sua natureza e capacidade.
A decisão de construir ou mesmo ampliar uma rede de esgotos precisa ser no mínimo amplamente discutida, para que todos tenham a clara consciência do que isso representa. Melhor dizendo, deveria envolver inclusive as cidades próximas e distantes que seriam afetadas e até, quem sabe, ser alvo de discussão nacional.
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No princípio eram os rios cristalinos, agora poluídos por lixo e esgoto. Muitos já se tornaram apenas canais de esgotos.
A cada dia, mais pessoas descartam seu esgoto com destino ao rio mais próximo (com ou sem tratamento). Triste destino o nosso e do planeta Terra, que hoje se tornou uma rede de esgotos a céu aberto.
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